FINAXA.ME
Como cobrar de quem te deve
Descubra como cobrar dívidas com inteligência e humor, no estilo Dante Reverso. Guia prático e satírico para recuperar qualquer quantia.
SÁTIRAS E CRÔNICAS
Cronista Dante Reverso
9/25/20254 min ler
Abandonai toda esperança, vós que emprestais sem recibo.” Assim começaria minha versão particular da Divina Comédia, se em vez de pecadores fosse povoada de caloteiros, atrasadinhos e devedores profissionais. Mas calma, leitor: este guia não é para afundar no lodo, mas para rir um pouco do drama e, se possível, sair com os bolsos intactos. Afinal, cobrar alguém é quase sempre uma descida ao inferno — mas há como retornar vivo.
Prepare-se: vamos atravessar juntos os círculos da inadimplência. E, quem sabe, ao final, você terá não só recuperado seu dinheiro, mas também descoberto que há poesia (e tragédia) nesse ato de mandar um PIX atrasado.
O limbo dos esquecidos
Aqui habitam os amigos que simplesmente esqueceram. Aquela alma que diz: “Nossa, passou batido, acredita? Eu jurava que já tinha te pago!”. Pois é, esquecer de pagar é fácil, esquecer de cobrar é que não dá.
Nessa camada, a regra é a delicadeza. Uma mensagem curta e doce, como quem pede açúcar emprestado:
“Oi [Nome], tudo bem? Acho que seu boleto se perdeu no purgatório. Você já conseguiu ver aquele pagamento de R$ [X]?”
Quase sempre, o devedor do limbo se redime. Quase...
O da boa desculpa
Aqui estão os poetas da justificativa: “o banco caiu”, “a internet travou”, “meu cachorro comeu o boleto”. São criativos, mas ainda maleáveis.
Resposta adequada: generosidade com limites. Reconheça a dificuldade, mas puxe para a prática.
“Entendo, realmente cachorro comendo boleto é complicado. Mas posso te mandar os dados do PIX agora, assim resolvemos hoje?”
O truque é cortar o drama e devolver com leveza. A sátira é sua aliada: rir da desculpa quebra o gelo e abre espaço para a solução.
O da enrolação elegante
Aqui descem os que sempre “pagam amanhã”. Amanhã, claro, é uma entidade mística que nunca chega. São pessoas que vivem em eterna segunda-feira.
O cronista que vos escreve já colecionou uns vinte “amanhãs” que não viraram hoje. Para eles, a técnica é simples: cristalizar a data.
“Amanhã parece ótimo. Só para confirmar: amanhã significa [data], certo? Posso te cobrar às 18h?”
Assim, o amanhã etéreo vira um número no calendário. Se não pagar, desce mais um degrau.
O dos chorosos profissionais
São os que abrem o coração, contam dramas dignos de novela mexicana: o carro quebrou, a sogra internou, a Lua está em Mercúrio retrógrado. Eles quase nos convencem a fazer um PIX para eles.
E aqui entra o ponto: empatia, sim, mas com cálculo. Se puder parcelar, ofereça. Mas nunca transforme-se no banco do caloteiro.
“Poxa, imagino a dificuldade. Vamos fazer o seguinte: paga metade essa semana e metade no próximo dia [X]. Assim você alivia um pouco e eu consigo fechar minha planilha.”
Humor aqui ajuda a quebrar a seriedade excessiva do drama: “Olha, não posso oferecer desconto em troca de lágrimas, mas se pagar hoje, posso considerar juros zero.”
O das promessas vazias
Neste círculo, moram os especialistas em sumir. Visualizam mensagens, não respondem, dão sinal de vida só para dizer que vão “resolver”.
Aqui, a arma é a formalidade temperada com ironia. Um e-mail ou mensagem firme, mas sem perder a sátira:
“Oi, [Nome]. Minha planilha já sente sua falta. O valor de R$ [X] ainda não apareceu e temo que ele esteja perdido no Triângulo das Bermudas. Se puder resgatá-lo até [data], ficarei imensamente grato.”
Se não adiantar, subimos o tom — e o círculo.
O do silêncio sepulcral
Esse é o nível do fantasma: não responde, não atende, não interage. Desapareceu, mas ainda deve.
Aqui não cabe poesia: cabe registro. Carta registrada, e-mail formal, prova documental. Mas, como Dante reverso, eu digo: até o silêncio merece sátira.
“Caro [Nome], seu débito permanece mais calado que monge em retiro espiritual. Contudo, preciso que ele fale em forma de PIX até [data]. Caso contrário, seremos obrigados a buscar exorcismo jurídico.”
O da afronta
Aqui estão os que dizem: “não vou pagar” ou “me cobra na justiça”. A frieza é tanta que até o Diabo fecha a porta.
E aí, meu amigo, não resta alternativa: ou aceita a perda (se o valor for baixo), ou vai para medidas formais. Protesto, advogado, juizado de pequenas causas.
Ainda assim, o estilo Reverso pede: não perca a ironia.
“Entendi, [Nome]. Fico feliz em saber que você confia tanto no sistema judiciário quanto eu confio no pagamento que não recebi. Até breve no fórum.”
Ferramentas de sobrevivência
Documente tudo: prints, recibos, contratos. Mais que provas, são o diário da sua descida ao inferno da cobrança.
Estabeleça limites: não empreste mais a quem não pagou. O inferno é circular, não se deixe rodar nele.
Use humor como escudo: rir da situação protege sua paciência e, quem sabe, abre caminho para resolver.
Seja escalonado: comece no tom leve, vá subindo. Nunca comece no grito.
Quando vale a pena perdoar a dívida
Às vezes, a batalha não compensa. Perseguir R$ 20 pode custar sua paz, tempo e até amizade. O perdão, nestes casos, é ato de inteligência — e de economia.
Mas lembre-se: perdoar não é esquecer. É aprender e nunca mais emprestar para o mesmo devedor. Afinal, até Dante escreveu que alguns pecadores não merecem segunda chance.
O cronograma da comédia trágica
Dia 1: lembrete delicado.
Dia 7: cobrança firme com leve humor.
Dia 14: proposta de parcelamento ou desconto.
Dia 21: e-mail formal com prazo final.
Dia 28: ligação direta e registro.
Dia 35+: medidas jurídicas.
Voltando à superfície
Cobrar não é prazeroso. É navegar entre laços pessoais, contas a pagar e desculpas alheias. Mas, como nesta jornada reversa pelos círculos do endividamento, há sempre um caminho de volta.
Seja claro, seja firme, mas não perca a sátira. Porque rir é o que resta quando o PIX não cai.
E lembre-se: quem empresta sem recibo merece medalha de santo ou diploma de inocente. Que você, caro leitor, nunca precise descer tão fundo de novo — mas, se precisar, que leve este guia como sua lamparina.