A 10graça do Dinheiro — Os males que ninguém gosta de admitir Descubra os 10
Dinheiro arruina casamentos, destrói amizades e acende brigas silenciosas. Entenda por que o dinheiro virou uma maldição moderna — e como escapar antes que te consuma. "Descubra os 10
SÁTIRAS E CRÔNICAS
Cronista Dante Revers
7/22/20256 min read


Dizem que o dinheiro é neutro. Que ele apenas potencializa o que já existe. Uma espécie de amplificador da alma humana. Se você é bom, ele te deixa generoso. Se é ruim, te transforma em um vilão com cartão black. Mas e quando o dinheiro simplesmente destrói tudo em volta, sem nem dar tempo de descobrir o que você era antes?
Talvez seja essa a parte da história que ninguém conta nos vídeos de sucesso, nos podcasts sobre prosperidade ou nas propagandas de bancos sorridentes. O que ninguém mostra é o lado sujo, feio, silenciosamente cruel do dinheiro. Aquele que arranca famílias do convívio e coloca em tribunais. Que transforma amigos em cobradores. Que disfarça inveja com “elogio” e afeto com intenção. Esse lado não é motivacional. É simplesmente a 10graça do dinheiro.
Não importa se você tem muito, pouco ou quase nada. Em algum momento, ele vai testar sua sanidade emocional. Vai colocar você na posição de escolher entre a paz e um Pix. Vai exigir que você negocie valores — e não estamos falando só de preços. Quando alguém morre, o testamento vira um campo minado. Um nome no inventário vale mais que anos de almoços em família. Já viu irmãos disputando herança? É uma dança macabra onde cada passo tem um preço. E geralmente, quem dança por último é quem menos esperava.
Nas amizades, a desgraça vem no diminutivo: “me empresta rapidinho”. Rapidinho, o dinheiro some. E rapidinho a amizade vai junto. A lembrança da dívida é eterna, mas a resposta no WhatsApp, nem tanto. E aí, se você cobra, é insensível. Se não cobra, é otário. O dinheiro cria esse limbo relacional onde ninguém quer parecer ruim, mas todo mundo sabe quem está sendo trouxa.
Nos casamentos, a coisa piora. O “na saúde e na doença” nunca incluiu “na falência e no rotativo do cartão”. O amor pode ser lindo, mas não resiste a 43 parcelas de um sofá que ninguém sabe se queria mesmo. A conta chega. Em dobro, se tiver filhos. E aí a cama vira trincheira. O dinheiro não compra felicidade, mas a falta dele aluga uma bela quantidade de desgraça.
E quando ele sobra? Aí sim, começa o espetáculo. A fartura não traz paz, traz plateia. Todo mundo quer um pedaço. De você. Do que você tem. Ou do que acha que você tem. Parentes ressurgem como se fossem notificações de empréstimo humano. “Lembra de mim?” Não, mas o boleto já está impresso.
A inveja é outro presente que o dinheiro distribui de graça. Basta estacionar um carro novo na garagem e pronto: você virou assunto em três grupos de família, dois de vizinhos e um de oração. Não importa se você trabalhou, juntou, suou. O julgamento será automático: “deve estar roubando”, “tá metido”, “isso não dura”. O brasileiro médio torce pelo sucesso alheio só até ele acontecer. Depois disso, é recalque com sabor de crítica construtiva.
E as redes sociais? A desgraça digitalizada. Você posta uma conquista e imediatamente vira o vilão da humildade. A ostentação é um veneno viciante. Cada foto em Cancun esconde um parcelamento em 12 vezes. Cada brinde em rooftop mascara um armário emocional vazio. O feed é bonito, mas a fatura é monstruosa. Só que ninguém vê. Ou melhor, finge que não vê. Afinal, like não paga boleto — mas alimenta o ego.
Pais endividados criando filhos mimados. Crianças que aprendem desde cedo que “merecem tudo” sem nunca aprender o que é custo. O dinheiro transforma limites em traumas, e a ausência de frustração infantil gera adultos emocionalmente analfabetos. “Meu filho vai ter tudo que eu não tive” virou mantra de quem vai envelhecer sem o que realmente importa: equilíbrio.
E aí vem o ciclo da ambição. Você quer ganhar mais, porque acha que isso vai resolver tudo. Trabalha mais, se estressa mais, compra mais, dorme menos. E quando finalmente consegue subir um degrau, percebe que a escada não tem fim. Sempre há um carro melhor, uma casa maior, um estilo de vida mais “instagramável”. A busca por dinheiro vira um vício, e ninguém avisa que o retorno emocional é cada vez menor.
Quantas pessoas você conhece que perderam tudo tentando ganhar mais? Gente que vendeu a alma por um negócio promissor, por um contrato, por um cliente. Quando o dinheiro vira prioridade máxima, tudo que não se converte em lucro passa a ser descartável. Isso inclui gente. Inclui você.
E o medo de perder tudo? Esse é o mal que ninguém admite. Porque quanto mais você tem, mais medo sente. O pobre tem medo da fome. O rico tem pavor da falência. O endividado não dorme. O milionário não relaxa. A ansiedade muda de roupa, mas continua sendo ela. Quando você acorda todos os dias preocupado com o saldo da conta, é porque já não tem paz — mesmo que tenha patrimônio.
O dinheiro transforma relações em contratos invisíveis. As pessoas não conversam mais, negociam. Cada gesto é um investimento. Cada “bom dia” pode ser uma entrada de pitch. A confiança é medida pela possibilidade de lucro. Se você não pode ajudar financeiramente, sua utilidade social se esgota.
No fim, o dinheiro vira um filtro cruel. Ele mostra quem realmente está por você. Ou por ele. A parte mais trágica? Às vezes, nem você sabe mais. Você mesmo já não sabe se está correndo atrás de uma vida melhor ou só fugindo de uma vida real. O dinheiro é ferramenta. Mas quando ele vira o objetivo, tudo em volta vira acessório.
Não se engane: o problema não é o dinheiro em si, mas o que ele revela. Ele mostra a verdadeira cor das intenções. Amplifica o ego. Aumenta os abismos entre pessoas. O dinheiro transforma boas histórias em tragédias silenciosas. Porque ninguém posta quando perdeu um amigo por causa de R$ 200. Ninguém grava stories quando a mãe foi internada e os irmãos começaram a brigar pela casa. Ninguém comenta quando o casamento acabou porque um dos dois mentia sobre as dívidas.
A 10graça do dinheiro é essa: ele não grita, ele corrói. Vai destruindo aos poucos, enquanto você finge que está tudo certo. E quanto mais você tenta parecer próspero, mais se afasta da prosperidade real — aquela que tem a ver com equilíbrio, com presença, com dormir tranquilo e acordar inteiro.
Talvez a maior riqueza hoje em dia seja viver uma vida em que o dinheiro obedece, e não manda. Em que ele serve, e não domina. Uma vida em que as pessoas ainda importam mais do que as posses. Uma vida em que você não precise esconder boletos nem fingir conquistas. Uma vida sem medo de perder… porque você já entendeu que aquilo que tem valor de verdade, não cabe na fatura.
Se você leu até aqui e sentiu um nó na garganta, talvez já tenha passado por um desses males. Talvez esteja passando. Mas ainda dá tempo. Não é preciso quebrar para aprender. É possível reconstruir sua relação com o dinheiro, antes que ele destrua a sua com o resto do mundo.
E acredite: isso começa por dentro.
Conclusão: O preço que ninguém calcula
O dinheiro deveria ser apenas um meio. Um facilitador. Uma ponte entre onde estamos e onde queremos chegar. Mas, para muita gente, ele virou o próprio destino — e é justamente aí que mora o perigo.
Quando o saldo da conta começa a definir o valor de uma pessoa, alguma coisa está profundamente errada. Quando uma dívida é mais forte que uma amizade de anos, quando uma herança pesa mais que a memória de quem partiu, quando o medo de parecer pobre vale mais que a tranquilidade de viver em paz… é sinal de que não somos mais donos do dinheiro — somos vítimas dele.
Talvez a verdadeira desgraça não esteja em tê-lo ou não. Mas em achar que ele resolve tudo, enquanto silenciosamente destrói o que realmente importa.
Portanto, da próxima vez que você pensar em ganhar mais, em subir na vida ou em ostentar algo novo, se pergunte:
O que isso vai custar de verdade?
Porque o boleto mais caro nem sempre vem pelo correio.
– Dante Revers
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