Rio de Janeiro, 06 de julho de 2025 – A cúpula dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), encerrada neste fim de semana no Rio de Janeiro, atraiu atenção internacional ao emitir um comunicado em que critica abertamente as tarifas comerciais impostas recentemente pelos Estados Unidos. O documento final, divulgado neste sábado, classifica tais medidas como "indiscriminadas" e "incompatíveis com os princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC)", defendendo um sistema comercial mais equilibrado e inclusivo.
Embora o presidente da China, Xi Jinping, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não tenham participado presencialmente, os líderes presentes reforçaram a coesão do bloco. A delegação chinesa foi chefiada pelo primeiro-ministro Li Qiang, e a da Rússia contou com o ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov. A ausência dos chefes de Estado não impediu o avanço das discussões sobre o fortalecimento da cooperação multilateral.
Entre os principais tópicos abordados, destaca-se a intenção dos BRICS de promover maior independência em relação ao dólar nas transações comerciais internas. A proposta de criação de uma moeda digital comum continua em análise, mas os países concordaram em estimular o uso de moedas locais em contratos bilaterais. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) anunciou que pretende ampliar o financiamento em moedas locais como forma de blindar as economias contra flutuações cambiais.
Além da agenda monetária, os líderes enfatizaram a importância de ampliar a atuação conjunta em setores estratégicos como energia, infraestrutura, inovação tecnológica e segurança alimentar. A expectativa é que os BRICS se posicionem cada vez mais como um bloco de contrapeso à influência das economias desenvolvidas, especialmente em fóruns multilaterais como a OMC, o FMI e o G20.
Superávit comercial do Brasil em junho frustra expectativas e alerta para volatilidade externa
No mesmo período em que se discutiam mudanças no sistema comercial global, o Brasil divulgou os resultados de sua balança comercial referentes ao mês de junho. O saldo ficou em US$ 5,89 bilhões, valor abaixo da projeção média de mercado, que esperava superávit de cerca de US$ 6,45 bilhões.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, as exportações brasileiras atingiram US$ 29,1 bilhões, com ligeiro aumento de 1,4% em relação ao mesmo mês de 2024. No entanto, a queda no volume exportado de commodities como soja, petróleo bruto e minério de ferro impactou negativamente o desempenho geral. Por outro lado, as importações cresceram 3,8%, somando US$ 23,3 bilhões, impulsionadas pela alta demanda por peças e equipamentos industriais.
Com o desempenho aquém do esperado, o governo federal revisou a projeção de superávit da balança comercial para 2025. A meta anterior de US$ 70,2 bilhões foi ajustada para US$ 50,4 bilhões. Essa revisão acende o sinal de alerta sobre a influência das condições externas nos resultados da economia brasileira, especialmente em um momento de desaceleração da demanda global e reorganização das cadeias produtivas.
Reconfiguração das relações comerciais globais
A reunião dos BRICS no Brasil ocorre em meio a um cenário internacional marcado por tensões comerciais, volatilidade cambial e desafios estruturais nos fluxos de capital. A defesa da multipolaridade nas relações econômicas foi um dos pilares do encontro, reforçando a ideia de que os países em desenvolvimento buscam maior protagonismo na definição das regras do comércio internacional.
Analistas observam que a movimentação dos BRICS pode representar uma resposta coordenada às incertezas causadas por políticas protecionistas de grandes economias, além de abrir espaço para novas formas de cooperação regional. A criação de instrumentos financeiros alternativos e o incentivo ao financiamento em moedas locais são estratégias que ganham força diante da crescente instabilidade monetária global.
No Brasil, esse novo contexto internacional exige atenção redobrada ao desempenho das exportações e ao câmbio. O fortalecimento de parcerias comerciais com países emergentes, o investimento em infraestrutura logística e a diversificação da pauta exportadora são apontados como caminhos viáveis para mitigar riscos e aproveitar oportunidades que surgem a partir dessas transformações geoeconômicas.